quarta-feira, 10 de junho de 2020

"depois penso na vida pra levar e me calo com a boca de feijão"

Quantas vezes você já pensou que esse mundo não era para você?

Ou que era insuportável?

Talvez eu nunca realmente tenha pensado nisso.

Sinto um peso em excesso.

Um desespero absoluto.

Mas nunca quis sair daqui.

Eu só quis parar.

Parar tudo.

Sumir.

ficar imóvel.

horas a fio. dias talvez.

Quem sabe tudo some?

Essa loucura que víamos em livros de história e chegou até aqui.

Essa confusão acelerada ou ansiedade generalizada, como diz o doutor. Que faz contrair os músculos. Que faz tudo embaçar. Como um véu no cérebro, cobrindo toda racionalidade, deixando tudo meio ofuscado e desforme, como quando abrimos os olhos embaixo d´água

A gente segue tudo, remédio, terapia, meditação, reza, chora, bebe, treina, dá três pulinhos, faz corrente, yoga e deixa quase todas elas pela metade. Ah e pensa positivo.

Não pensar positivo nunca foi a minha. A mente prefere encarar a realidade e saber com o que vai lidar.

Mas como ela sabe com o que vai lidar?

Não sabe.

Ansiedade generalizada.

Ela faz tudo pulsar por dentro. As veias, os músculos, o coração. O aperto, o sufocamento.

Passam os dias, passam as horas, passa o mês.

Meu deus, não fui produtiva o suficiente. Não fiz 3 cursos online, não aprendi uma língua nova, não li 4 livros.

Dormi demais.

O desespero da volta bate. Do estresse, da rotina. Ainda tem pandemia, ainda tem flertes com presente repetindo um passado trágico e triste.

Tem dias que você pensa que não é para você?

Tem dias que não consigo.

Não dá mais, não consigo mais, já disse aos prantos em desespero. Travada numa cadeia olhando para o computador.

Eu só quero poder  parar.

Talvez se eu ficar aqui paradinha e  não me mexer tudo melhore. Talvez não seja comigo. Talvez eu não faça parte de tudo...

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(abre os olhos)

é, não. tá tudo aqui ainda, com pequenos intervalos para respirar.




quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Ela.

Eu pensei em guardar esse texto para uma data comemorativa. Mas em tempos de tanto ódio acho que não caberia guardar um de amor.

Você é meu exemplo diário de humildade e amor ao próximo ou de simplesmente amor.

Você é a menina que vê uma mulher com duas crianças na chuva, para o carro e oferece carona.

Que ao ver qualquer bichinho na rua ou na estrada quer ajudar de alguma forma.

É a menina que mesmo que o carro não tenha deixado você passar com a moto, para ao lado dele e diz: ó seu pneu da frente tá baixo, precisa encher.

Que se emociona com a necessidade ou sofrimento do outro.

Que corre e fica do meu lado todas as vezes que eu desmorono (e que não são poucas). Ou que acorda cedo, muito cedo, porque eu perdi a hora e me leva para trabalhar.

Você me faz querer ser melhor a cada dia.



Ps: um sorriso desses bicho ;)

terça-feira, 19 de junho de 2018

Esse é um texto sobre a minha mãe

Eu comecei a ler um livro em que o filho foi em busca da histórias dos pais, presos na ditadura. Ele avisa que é contado em ordem não cronológica (e esse texto também não). Os pais ainda estão vivos e ele vai em busca desse passado e de respostas de antes da sua própria vida começar.

Isso me fez pensar logo ao ver o livro a venda.

Mas esse texto em nada tem a ver com o livro ou a ditadura. Esse é um texto sobre a minha mãe. E ele tem rodado na minha cabeça por algum tempo, de formas e tempos diferentes.

O livro me fez pensar o quanto eu também sempre tive o desejo de conhecer a história antes de mim. E como seria após.

Minha mãe faleceu com apenas 30 anos. Eu tinha seis meses, minha irmã 4 anos. Não tenho foto com ela, a não ser aquela em que estou na sua barriga e minha irmã a olha com um misto de alegria e admiração, que talvez eu nunca tenho visto mais nela.

É difícil escrever sobre isso, tentei uma vez semi adolescente e me marcou por ter sido tachado como uma forma de chamar atenção e terem dó. Acho que isso me marcou, e hoje adulta, eu penso que talvez tenha sido. E então nunca mais o fiz. Ainda hoje, escrevendo sinto esse misto, como se eu tivesse fazendo para tal fim.

Mas isso é uma outra história

Esse é um texto sobre a minha mãe.

Ela sempre permeou meu imaginário, como ela era, qual era seu jeito? E tentava não cair na armadilha de criar uma super heroína, insuperável.

Eu tive sim uma outra mãe, que me criou. Mas esse é uma outra histórias.

Esse é um texto sobre a minha mãe.

Uma mulher com planos, não sei se muitos. Mas sei que um era certo, abandonar a carreira de gerente de conta em um banco (a primeira ou uma das primeiras mulheres a ocupar ao cargo em Santos, pelo que me contaram) para que com o nascimento da segunda filha pudesse cuidar direito das duas. A vida é irônica.

Mas isso é outra história. Essa é sobre a minha mãe.

Eu queria saber coisas simples dela, como era a sua risada? A gente se parecia além de algumas características físicas óbvias para alguns?

Essa imagem foi sendo resgatada ao longo de muitos anos e com muitos buracos. Falhas de memórias e de coisas que se perdem no tempo.

Uma vez, perguntei para minha tia (sim, sempre fui muito próxima da família dela): Tia, como era a risada da minha mãe? Era escandalosa como a minha ou como a da minha irmã?

Ela parou, e em uma mistura de surpresa e desapontamento me disso: Nossa, eu não lembro Mi...não lembro. Fiquei chateada, queria tanto saber mais.

E hoje, 10 anos depois de ter perdido a minha própria irmã, percebo que não lembro mais da risada dela. Eu tenho a imagem dela sorrindo, mas o som ficou perdido pelo caminho.

Mas, ahhhh, como eu ficava feliz quando ações simples minhas arrancavam um: nossa, a sua mãe fazia igual!

Essa curiosidade, vontade, a força do DNA, pode chamar do que quer que seja, sempre esteve ali. Talvez como uma forma de conhecer mais a si mesmo. De saber mais sobre aqueles que vieram antes de nós e teceram o início de tudo.

Quando criança eu imaginava que ela podia ter fugido e um dia voltaria, mas também rezava e dizia: cuida da Jú, que eu me viro. Numa forma até de pedir ajuda para eu não ter que lidar com aquilo.

Mas isso é uma outra história.

Esse é um texto sobre a minha mãe.

Sobre a qual não sei o tom de sua risada, mas sei que tinha os ares de irmã mais velha e um humor que flertava com o irônico e que quando arrotava, mesmo sendo criada em uma família que a época tinha pompa e circunstância, fala "eeeeee chico", uma referência a um porco imaginário que vivia embaixo da mesa. Era também de gênio forte e dotada de ciúmes.

Ela foi cedo. Pelo que contam, parece que foi se despedindo... das filhas. Cada um vai contando um pedaço. Tive pouco contato. Ela já ficava em outra cidade para se cuidar. Não posso imaginar o que deve ter sido.

Sei que se negou a tirar uma foto que tanto insistiram, ela já com cicatrizes que nunca curaram. Registraram mesmo assim. E em um tempo de filme e revelação, a surpresa da foto queimada bem em seu rosto.

Essa não é uma história de lamento. É um texto para enaltece-lá.

Não sei se são as leituras espíritas, mas volta e meia o pensamento nela volta a rodear.

Uma vez, em 2008, estava buscando voltar para a minha área de trabalho. Surgiu a oportunidade de uma entrevista em São Paulo. Eu vim, cheia de medo e emoção. Subindo as escadas rolantes do metrô Consolação eu me deparo com uma placa que está lá até hoje: "Nacional: O Banco que está ao seu lado".

Era o banco dela.

E até hoje sorrio e me emociono ao olhar para ela.






terça-feira, 15 de março de 2016

E de tudo se fez
Silêncio
e pranto.

domingo, 24 de maio de 2015

Passa aqui.

Me leva embora. Daqui. De mim. Da vida.

Me pega, joga, puxa meu cabelo.

Invade com tudo.

Se lança, me encoraja. Me leva e mostra para onde seguir.

Porque eu, assim, já cansei de decidir.

Sou cansada. Sem vida. Tentando fingir.

Me atravessa. Enxerga além. Saiba o que dizer.

Não precisa respeitar tanto assim.

Entenda o que eu não digo.

Sente.

Me explica o que eu não sei.

Me faz viver enfim.




sexta-feira, 22 de maio de 2015

tenho carências demais, para pouca pessoa.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Impressões sobre a minha primeira corrida.

Foi ontem. Minha primeira corrida. Pode parecer banal, bobo escrever sobre isso. Sempre questionei as pessoas super emocionadas com esse fato. Eis que, me vi assim. Via na tv as pessoas correndo por alguém que tinha partido. E esse alguém nem tinha história com corrida e eu pensava "mas que diabos uma corrida tem a ver com isso?". Eis que, me vi assim.

Veio como uma onda, a energia que percorria o lugar. E sim, eu quis fazer a corrida por ele. Não tem sentido, nem racionalidade nisso. Você só sente. E no meio daquela atmosfera mágica, beijei a correntinha, a dele, que carrego comigo, e olhei para o céu com os olhos marejados.

Poderia parar nesse parágrafo para sempre, pensando nisso.

Mas como na corrida, tenho que seguir. Eram 10 km pela frente e me dei conta que essa primeira vez não poderia ser em um lugar mais especial, foi no que chamo de "quintal de casa", a praia, não em uma qualquer, mas nas areias de Bertioga, onde reside tantas memórias.

Enquanto corria, passava por sensações, memórias, acontecimento e gestos. Pessoas incentivando umas as outras, percebi que correr, é acima de tudo solidário. Gratuitamente, você torce e grita para os primeiros que passam, você nem os conhece, não importa, assim como a posição que você está. Você apenas quer chegar também.

Eu corria e observava, presente, passado e o cotidiano. Olhei aquele monte ali no horizonte, o mesmo que quando criança, nas andanças na praia com meu avô, era nosso ponto de volta de onde tínhamos vindo, não sem antes a minha imaginação de quem tinha acabado de ler a Ilha Perdida, perguntar: "vô, tem gente que mora ali? Dá para ir ali?". E ele é do tipo que incentiva e não te deixa sem resposta nunca e dizia, "claro, vamos acampar ali". Eu ficava maravilhada. E perguntava de bichos e se íamos naquele dia mesmo. Claro que nunca fomos. E isso importa?

Eu corria e vi uma mãe com uma criança no colo na beira da água, um casal logo adiante fazia algum tipo de adoração ajoelhados a beira mar, com as palmas da mão voltadas para o céu. Era como se aquela energia pudesse me alcançar. Naquele momento agradeci, pela minha vida, minha história, por momentos, pelo sol e pelo mar - o meu mais antigo amigo. Estendi os braços, fechei os olhos e agradeci ainda correndo. Porque essa era a sensação que me vinha.

Eu corria e vi gente que tirou o tênis e foi até o final sem, senti as pernas continuarem e o ar não vir, passei por conchas que voltei para pegar. Vi senhoras, crianças, concentração, suor, risos, alegria, vi a vida. Cantei na minha música preferida e dancei com as mãos.

Cheguei. Cheguei procurando as pessoas especiais com quem fui, cadê, cadê? E vi um sorriso largo. Ainda tive fôlego para pular e comemorar. Mais alguns passos e outro sorriso largo me esperava, filmando tudo. Porque, como sempre, ela sempre esteve ali nos momentos marcantes. Um abraço triplo e sincero, de alegria, de orgulho, de satisfação de que conseguimos, mas acima de tudo, de conseguir junto e poder compartilhar.

Ah, o orgulho. Como me faz falta o seu. Como ele me vem sempre na cabeça. O seu sorriso e emoção no que eu conquisto. A emoção que não era mostrado nas palavras, mas no olhar. O meu melhor vai ser sempre para isso. Para você.

Depois de tudo, mergulhei, no mesmo mar em que minha avó, após colocar a toquinha, ia nadar.

Senti o sal. A água. O sol. O frio. a força da água. Olhei em volta. Rezei. E me fui.

Porque assim como na corrida, a gente tem que seguir.